tag:blogger.com,1999:blog-59278053685782168362024-03-08T01:02:55.372-08:001 Minuto antes do VícioUlisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-912714707550618482008-03-27T14:27:00.000-07:002008-03-27T14:31:54.293-07:00O FRANGOTirou o primeiro pedaço da coxa, rasgando a carne morta com os dentes e introduzindo-a na escuridão do tecido conjuntivo. Mastigava de boca aberta. A carne se lavava de saliva. A luz entrava, fazendo ali pequenos clarões, como raios diluídos de uma tempestade, até deslizar pelo o esôfago e se perder na flor do estômago.<br /><br />- O que tu tá fazendo?<br />- (com a boca cheia e as palavras vazias) comendo, não tá vendo?<br />- tô vendo, mas o que que tu pensa que tá fazendo?<br />- Nada demais...<br /><br />Ela não levou um susto com aquela cena escatológica. Apenas reclamou, como quem depreende argumentos com outro alguém que deixa a cama desarrumada, ou com alguém que deixa a comida descoberta á ventura do frio, com quem sai e deixa a porta aberta, e no caso corrente, com quem caga e come ao mesmo tempo.<br /><br />- O que tu pensa que tu ta fazendo?<br />- nada...<br />- Tu pensa que isso é bonito?<br />- Tu quer o quê, hein? Que eu coma, cague e ainda te olhe na porta do banheiro?<br />- O banheiro não tem porta, por que se tivesse...<br />- Tu abria do mesmo jeito, por que é mal educada...<br />- Mal educada, olha quem mal consegue falar, por que ao mesmo tempo que fala, engole e.. e.. evacua!<br /><br />Era estranho para ela continuar aquele assunto tão vicioso como o ciclo reprodutivo de uma ameba.<br /><br />- Tu devia colocar uma porta nesse banheiro pra poupar os outros das tuas manias.<br />- Tu devia temperar melhor esse frango, puta frango ruim de merda, (cuspindo alguns grão de arroz ao falar) Além do bicho não ter alma, ainda não tem sal!<br /><br />Ele não poderia pensar numa retruca melhor do que essa que se passou agora pouco, a mulher saiu, não tinha mais nada o que falar, só bastava cobrir as panelas, arrumar a cama, trancar a porta, mas eis que de repente ele acha um cabelo refugiado entre o arroz e o pescoço da galinha.<br /><br />- (Se levanta com pressa par mostrar a mulher o que descobriu) Puta merda, olha aí!<br />- (Se assustando com a nudez inusitada de quem estava no banheiro a fazer necessidades e sai sem nenhum tipo de barulho que faça pensar que pessoa terminou o que estava a obrar) O quê?<br />- Um fio de cabelo da tua cabeça, ou sei lá da onde!<br />- Não deu nem descarga, seu porco!<br />- Vim só pra mostrar o fio seboso dentro da comida, tá aqui, ó! Merda de comida sebosa essa...<br />Enquanto o casal trocava acusações voláteis, o prato de comida, mal apoiado da tampa do vaso sanitário, caiu se prendendo na espécie de funil que vai diminuindo a largura até chegar à água que se posta no fundo. Com a tendência da inércia, o pescoço, o osso da coxa, uma perna inteira e resto do arroz, fizessem honras às fezes e lá se tornaram isotópicas, como os átomos de mesma família...<br /><br />- Olá teu prato! Há! Caiu no vaso! Há hha!<br />- Tava melhor cagar do que comer...<br />- É melhor ter o bucho cheio do que o intestino vazio!<br />- Dá no mesmo no final! Quer saber, perdi a vontade de cagar! Tu não vai comer, não?<br />- Tô sem fome!Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-11805963483386182572007-12-25T16:54:00.000-08:002007-12-25T17:00:10.258-08:00O MACARRÃO<br /><br /><br />Enquanto o seu companheiro, não sabemos se era seu namorado, seu amante, seu marido, seu noivo, o entregador de pizza, o bombeiro da boate, enfim, recomeçando, enquanto seu macho comia tediosamente um macarrão frio, ela entrou completamente embucetada:<br /> - então? Ta gostando do macarrão?<br /> Ele, não percebendo que uma resposta indiferente iria acarretar no seu ouvido uma verborragia de reclamações acumuladas de vapores menstruais inalados mensalmente pela dona da vagina encarniçada de raiva, disse:<br /> - Ta bom, mas não ta gostoso, e daí?<br /> Ela saiu, por um instante, depois voltou como se fosse um vulto.<br /> - Seu cínico!<br /> - Cínico por quê?<br /> - Por que é cínico!<br /> O silêncio, o cheiro do macarrão frio e já sem paladar, o cor quente de um quartinho abafado, a mesa mal posta. Ela saiu novamente e foi tomar banho. Ele esquece o macarrão que mais parecia argamassa e abre o box de repente assustando sua fêmea - as vezes as pessoas banham e se esquecem que estão nuas.<br /> - Eu quero cagar.<br /> - Caga, então, eu sou dona do teu cu?<br /> - O que tu quer dizer com isso?<br /> - Nada, se você quer fazer alguma coisa então faça.<br /> - Você tem que sair do banheiro<br /> - Não saio, se quiser espere.<br /> - Esperar o quê?<br /> - Eu banhar.<br /> Ele se sentou. Levantou. Se sentou novamente. Olhou o macarrão, que mais parecia uma peça mal acabada de argila. Abre de novo o box, dessa vez não assustou a mulher.<br /> - Esse macarrão parece uma merda!<br /> - Então por que comeu?<br /> - Comi por quê... por que?<br /> - Por que é uma merda? <br /> - Você ta me chamando de come-merda?<br />- Não... você achou? achou o macarrão ruim? Então por que comeu?<br /> <br />Fez-se uma pausa longa. Só se ouvia a água do chuveiro se estilhaçando no chão. Ela deixou de olhá-lo e recomeçou a se lavar. Ele com o orgulho fedendo a cu queimado, diz: <br /><br />- Você é uma cínica!<br /> - Cínica por quê?<br /> - Por que é cínica!<br /> <br /><br /><br />ulisses senil<br />15/11/2007Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-76635890594822979352007-08-06T14:08:00.001-07:002007-08-06T14:08:49.950-07:00OS RUSSOS<br /><br /><br />IVANOVITCH: Jesus é o senhor!<br />NIKOLAI : Jesus é o senhor!<br /> IVANOVITCH: Há um equívoco, Jesus é o senhor!<br />NIKOLAI : Você se engana, Jesus é o senhor!<br />IVANOVITCH: É o senhor!<br />NIKOLAI : Tem que ser o senhor!<br />IVANOVITCH: (pausa) Vamos retraçar o plano, Nikolai.<br />NIKOLAI : (pigarreando) Merda...<br />IVANOVITCH: Bem, Jesus vai ser o laranja do.. do...<br />NIKOLAI : (Atalhando) Enfim, nós já sabemos...<br />IVANOVITCH: Então… Abriremos uma conta no nome de Jesus…<br />NIKOLAI : Em nome de Deus! Porra! Em nome de Deus! Quantas vezes eu vou repetir isso Ivanovitch!<br />IVANOVITCH: desculpe-me. É a situação que me deixa nervoso...<br />NIKOLAI : Quem for o Jesus fica com as transferências e com uma boa percentagem. IVANOVITCH: O lucro é muito grande, mas o risco pode é alto.<br />NIKOLAI : A grana! Pense na grana meu rapaz! Sem falar da fama! Tudo em nome de Deus!<br />IVANOVITCH: Mas eis a grande questão... Quem vai ser o Cristo?<br />NIKOLAI : Cá entre nós, Ivanovitch, você é solteiro e se entrar em cana pode ainda aproveitar a vida. Os anos podem ser longos, mas hão de passar, e irão passar! Senão de forma melhor... numa casa de praia, por exemplo.<br />IVANOVITCH: E se eu pegar toda culpa do processo e responder por toda máfia? Posso até ser morto antes mesmo de ser julgado! <br />NIKOLAI : A glória e o risco andam juntos, meu caro. Você só terá essa chance na vida, assim como você só tem uma chance de viver. A chance vale a vida e a vida vale a chance! Pense Ivan! Pense!<br />IVANOVITCH: E por que eu? Por que não o senhor?!<br />NIKOLAI : Você sabe que eu sou bom com as contas, com os cálculos, além do mais, eles confiam em mim.<br />IVANOVITCH: Eles quem?<br />NIKOLAI : Por acaso você está fumando nóia? O povo de Deus, é óbvio!<br />IVANOVITCH: (pausa) Será que não teria outro meio lícito.. um meio seguro?<br />NIKOLAI : Merda homem! Você quer o quê? Um meio santo? Você quer o quê? Bonomia, benevolência? Você não nasceu pra ser santo... você nasceu pra ser Cristo!O laranja do esquema! Esqueça essa estabilidade medíocre! Essa vida pacata de advogado be sucedido! Puta que pariu Ivan! Parece que estás sendo tentado pelo diabo?!<br />IVANOVITCH: (pausa) Onde está o Judas?<br />NIKOLAI : Foi comprar rosquinhas, mas está demorando<br />IVANOVITCH: Então eu sou o Jesus mesmo...<br />NIKOLAI : É o senhor!<br /><br />(barulho de sirenes)<br /><br />IVANOVITCH: É a polícia?<br />NIKOLAI : Puta que pariu uma vaca! E agora?<br />IVANOVITCH: Nos cercaram, Nikolai! Nos cercaram!<br /><br />(Policial arromba a porta)<br /><br />POLICIAL: Quem é o Jesus aqui?<br />IVANOVITCH: (Apontando para Nikolai) Ele!<br />NIKOLAI : (apontando para Ivanovitch) Ele!<br />POLICIAL : (Trazendo o Judas) Quem desses dois é o laranja? Fale homem! Quem ia ser o Cristo? Diga!<br />NIKOLAI : Pense bem no que você vai falar Judas<br />IVANOVITCH: Tudo pode acabar bem...<br />POLICIAL: FALE!<br />NIKOLAI : Não!<br />IVANOVITCH : Pense nas conseqüências!<br />POLICIAL : SILÊNCIO!!! Quem é, Judas? Quem desses dois ia ser o pivô da máfia?<br />JUDAS : (começa a chorar) ...<br />POLICIAL: VAMOS!<br />JUDAS: (pausa) EU!<br />TODOS: VOCÊ!<br />JUDAS: Eu iria ser Cristo, mas não ia abrir a conta no nome de Deus, se sim no meu nome, daí eu fugiria...<br />IVANOVITCH: TRAIDOR!<br />NIKOLAI : PORCO MALDITO!<br />POLICIAL: Se Judas traiu vocês então os senhores fazem parte da máfia...<br />IVANOVITCH: Que é isso, senhor! Ele diz ser o Jesus, então que seja!<br />NIKOLAI : Levem-no, nós nem conhecemos este homem...<br /><br />ulisses senil<br />01/08/2007Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-50061612757149303662007-08-04T08:51:00.000-07:002007-08-04T08:56:01.742-07:00<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size:180%;">Tudo tem idade e a idade é um fardo, pois existe o tempo, e existe no tempo, e, por fim, existe e à medida que existe (o tempo, no tempo e o existir) produz o passado e com base no passado, Produz-se a idade, que por sua vez está em tudo que existe </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:180%;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size:180%;">Bem, </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size:180%;">Lídia tem 18 anos e meio. Meu chinelo tem 27 dias. Minha cama tem 10 anos e 3 meses. Meu relógio, 4 anos e 15 dias. meu guarda chuva, 14 dias. Minha escova de dente, 5 meses. Meu sapato novo, 3 anos. Minha TV faz dez anos hoje (hoje é aniversário da minha TV). Meu conjunto de cama, mesa e banho tem 3 anos e 2 meses. Meu colchão, 7 anos e 1 mês, e hoje, jovem e viço, veio a falecer com 7 anos meu ventilador. <span style=""> </span></span><span style=""> </span></p>Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-70060179291369941992007-08-04T08:46:00.000-07:002007-08-04T08:48:39.331-07:00<span style="font-weight: bold;">Lídia, sua bonequinha de olhos azuis...</span><br /><br /><br /><br /> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não Lídia! não se preocupe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Tu nunca ficaras viúva! </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>Me verás velho com a cara de pano, com cara de sebo, e terás a serenidade invariável do polietileno, serais eterna! Lídia, </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p>tu!<span style=""> </span>que foi feita pro consumo, </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">pro uso, pro desuso, e reciclagem</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">pros solitários, pros visionários, pros anacoretas, pros sem porvir, para os práticos, pros sem paciência e assim por diante, </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">sem validade és! sem limite de idade, sem pudores, </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">com a vida útil duradoura, e com garantia<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Lídia! Tu est l’uniquement amour que j’ai en tout ma vie!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Acima de tudo, fiel e de uso único! Uso único!</p>Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-30075664099836560192007-07-25T14:53:00.000-07:002007-07-26T13:08:55.461-07:00<span style="font-size:180%;">...</span><br /><span style="font-size:180%;"></span><br /><span style="font-size:180%;">Um homem se cura da depressão dando valor às pequenas coisas da vida. O homem de barba mal feita, de olheiras profundas. O homem deprimido leu que tinha que dar valor às pequenas coisas da vida. O homem não tinha saída e a única coisa que poderia fazer na frente do espelho, com as olheiras profundas e a barba mal feita era: Lavar a cara. Tocar no rosto como estivesse despedindo-se. Engolir um cuspe seco. Respirar fundo. Amolar uma lâmina. Tomar coragem. Olha a face pela última fez. Pegar a navalha com as mãos trêmulas. Direcionar em direção ao pescoço. Levantar o queixo. Olhar para cima fazendo uma derradeira prece. Fechar os olhos e... Barbear</span>-se<br /><br /><br />ulissses SenilUlisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-69676743861027694492007-07-25T14:50:00.000-07:002007-07-25T14:52:11.404-07:00<em>TREINO 2</em><br /><em></em><br /><em>(duas putas numa esquina)</em><br /><br />Tânia dá um cigarro. Carla Acende.<br /><br />TÂNIA:<br />Tu chupou hoje? (Carla está dispersa) Ei!<br />CARLA:<br />O que cacete?<br />TÂNIA:<br />Cacete porra!<br />CARLA:<br />Tu ta falando do que, porra?<br />TÂNIA:<br />Se tu chupou cacete hoje, caralho!<br />CARLA: Não chupei porra nenhuma...Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-45325552457279879802007-07-25T13:53:00.001-07:002007-07-25T13:56:52.418-07:00O ócio e a cartilagem<br /><br /><br /><br />Escrevia muito distante das letras e bem próximo do tédio, tão próximo que podia sentir seu hálito fúnebre com cheiro de café...<br />As idéias fluíam de uma maneira tão parca que me assustavam. Talvez conseguisse reunir num engodo toda a parcimônia e publicar uma obra de prestigiadíssimo garbo. Um compêndio tão tedioso que de tão tedioso não o seria! Estupendo!<br />Pensando bem, não gosto muito do garbo tão pouco do tédio, sem falar que linha que transcende o tédio é a vida, quebrando-a, desembocamos no suicídio. Então que fiquemos alheios a estes assuntos taciturnos tanto quanto a língua fica alheia ao bocejo.<br />Falando em bocejo, me flagrei bocejando em cima de meus próprios escritos! Estava indiferente aos meus rascunhos, como se fosse um esposo olhando a volúpia de sua mulher frígido, compelido pelo fastio dos anos de matrimônio, embora ela ainda conservasse a beleza.<br /> Nesses instantes em que a mente beira o desespero, em que o espelho do mar parece uma barreira intransponível, eis que emerge o insólito se debatendo como peixe! O insólito, tão brusco ao mesmo tempo tão tênue...<br /> Vejam! Meu nariz caiu! Meu nariz deslocou-se da fossa nasal e caiu sobre meus escritos!<br /> Não acreditei em tamanho absurdo, mas aos poucos fui digerindo a idéia de ver aquele pedaço de carne. Na verdade não conseguia vê-lo como meu próprio nariz. O reneguei de imediato. Olhei-o com desdém, com truculência. “O que fazes ai, seu pedaço de carne, sobras de corizas? Seu bastardo! Negaste a própria cara!”.<br /> Notei que ele respirava. Ri! Deleitei-me com a risada mais inaudível que pude soprar em toda minha vida. “AHAHAHA, tu respiras pra quê seu furunculoso? Respiras pra quê se não tem pulmões?”.<br /> Ria incessantemente até me recordar dos meus escritos implausíveis. Tenho que achar o engodo da minha ultima idéia e assim guinar minhas próximas prelações... Bem, estava escrevendo até que meu nariz caiu sobre a folha... MEU DEUS! Estou sem nariz! Sem nariz, oh pai! Pode existir maior infortúnio do que ficar sem o próprio nariz? Desgraçada seja minha execrável existência! Desafortunados sejam meus escritos! Meus escritos, oh meus escritos...<br /> Pensando melhor, pra que eu quero um nariz? “Pra que te quero criatura infame? Sentirei sua falta apenas quando escarrar minhas corizas, mas se não tiver nariz, não terei coriza. Saudades de ti pra quê?”.<br /> Ouvi um murmúrio... Era alguém agonizando... Olhei pro lado, olhei por outro, pra trás, pra frente... Era o nariz... Meu Deus! Não sabias que tinhas vida! Quando falei que respirava estava apenas com xistos! “Fique sabendo”, me direcionei ao nariz, “que não me arrependo do que falei, criatura! E se quiseres que repita eu o farei!”.<br /> Quando me preparava para destilar toda minha execração ele começou a falar bem baixinho e acabou me atalhando. Murmurou alguma coisa, mas não entendi. Abaixei-me mais para ouvi-lo, disse outra coisa inaudível com muito escorço, mas também não entendi - ele era fanho, fato que o torna mais desgraçado - abaixei mais um pouco e ele repetiu com força e com raiva:<br /> - Não vedes que uma cabeça sem nariz é o prelúdio do esqueleto, é o prelúdio do crânio?!<br /> -Ahn?<br /> Fiquei perplexo com tamanha afirmativa e com o tom profético, embora fanho.<br /> Como pode? Além de atrapalhar minhas divagações sobre parcimônia, tédio e falta de inspiração, ainda vem me retorquir! Não estou pronto para tamanho desplante!<br /> Mas, mesmo que doa, o infeliz estava certo. Uma cabeça sem nariz é o prelúdio da caveira. Não posso protelar, ele está certo. Imagine você sair pela rua e dar de cara com uma caveira?! Seria capaz de prendê-lo por infração ao pudor!<br />Resolvi apelar pela complacência nasal:<br /> - Perdei-me, querido narizinho. Não queres voltar ao seu lugar de origem? Não queres voltar para onde reina a plenitude? Não queres voltar como a parábola do filho pródigo?<br /> - Falso! – disse o nariz com veemência – Não voltarei se não pedires com ternura...<br /> Descontrolei-me:<br /> - Ah é? Você não quer voltar, né? E você aceitará o sôfrego destino de ser fanho pelo resto da vida?<br /> - Mas eu não sou fanho!<br /> - É sim! Fanho, fanho, fanho!<br /> - Cara de caveira!<br /> - Fanho!<br /> - Cara de caveira!<br /> - Fanho!<br /> - Cara de caveira!<br /> - CHEGA!!! Olha, seu verme, se quiseres passar a vida todo toda ruminando coriza e falando esquisito, o problema é seu! ... Mas, por favor, volte... Não me acostumarei a outro nariz que não seja você... Volte...<br /> Ele pensou um pouco e com quê de desdém. Era sádico, maquiavélico. Seria capaz de me fazer implorar de joelhos. De suplicar. De louvá-lo! Mas eu não o faria, nem que tenha que carregar o pior dos pesares...<br />- Decidi – disse o fanho com o semblante sádico – Só voltarei se você...<br />- Não! – atalhei – Não te quero mais! Não quero o inimigo sustentando meus óculos!<br />- Você quem sabe, eu não tenho nada a perder!<br />A discussão era ávida. Estávamos, eu e o meu nariz, num verdadeiro esgrima e a qualquer hora um ia tombar. Silenciamos... Qualquer barulho seria tão letal como um erro do toureiro... Fitamo-nos. Eu esperava ele dizer alguma coisa. Ele o mesmo. O clima era tenso. Engoli o cuspe seco da coragem e falei:<br />- Seu fanho!!!<br />Ele retorquiu:<br />- Seu cara de caveira!!!<br />Retruquei:<br />- Seu fanho!!!<br />Ele respondeu:<br />- Seu cara de caveira!!!<br />- Seu fanho!<br />- Cara de caveira<br />- Fanho!<br />- Cara de caveira!...<br /><br /><br /> Ulisses Senil<br /> 20/08/2006Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-59790946262981209622007-07-22T18:52:00.000-07:002007-07-22T18:55:03.604-07:00<p class="MsoNormal"><b style=""><span style="font-size: 10pt;">Lídia falou!<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="font-size: 10pt;">A facilidade de me apaixonar por qualquer coisa qual querem as coisas que...<o:p></o:p><br /></span></p><p class="MsoNormal" style=""><span style="font-size: 10pt;">Tédio:<span style=""> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Tv ligada fora do ar,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Motéis lotados,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Rua vazia,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Crianças com fome,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Ursos polares morrendo,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">E a alegria mórbida<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">De viver tudo que você viveu<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Pra saber que o roxo é a nova cor da moda<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">“Não admito... Lídia! Você está sempre errada!”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">A facilidade que tenho de me apegar a qualquer coisa qual querem as coisas<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Por que o que nos norteia<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">É uma inteira falta de opinião sobre o assunto<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Por que opinião é<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Pensar que se pode rir da sociedade para a sociedade rir da opinião<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><span style=""> </span>“Lídia, não é o que você está pensando, você pensa?”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Sou apenas um filho da pólvora<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Sou apenas um filho da guerra<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Sou apenas um filho das mortes<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Um filho da bomba<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Sou um filho das mães!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">A facilidade que temos de nos apaixonar por qualquer coisa qual querem as coisas...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">“E vens me dizer dessas coisas que não dizem<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">que verdade é vertigem<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">que relaxando se goza<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">que com dois antônimos se faz um paradoxo...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Lídia, o que tu não entende,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><span style=""> </span>é que é muito bom beber água na fonte, <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">porém a graça do deserto é o oásis”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Lídia retruca:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">“Quem disse que no deserto tem oásis?!”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Lídia, às vezes eu penso que tu és mais,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">Na uterina essência do ser,<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;">que uma boneca inflável...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><span style=""> </span>ULISSES SENIL<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;"><span style=""> </span>11/02/2007<o:p></o:p></span></p>Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-42683403245257914622007-07-22T08:11:00.000-07:002007-07-26T13:55:48.793-07:00<span style="font-family:webdings;font-size:85%;"></span><p style="FONT-WEIGHT: bold;font-family:trebuchet ms;" ><span style="font-size:100%;">CUBISMO INFUNDADO<br /><br /><br />E digo mais, meu amigo!<br />A razão é uma coisa conotativa<br />Não tenho culpa se os novos provérbios são os novos tempos<br />A verdade é: eu não sou de fato quem você está pensando, meu rapaz.<br />Eu não sou nem Cristo, nem Sócrates<br />Em verdade, em verdade vos digo: Só sei que nada sei...<br /><br />Minha vida começou assim:<br />Eu disse ao meu pai “penso, logo existo”<br />Meu Pai me disse “Filho, todo penso é torto”<br />(pausa)<br />Pra que me preocupar com a solidão se eu tenho um banco que cuida de mim?<br />A razão nunca estará na razão<br />Meu caro,<br />A revolução é uma desculpa pra falar metáforas<br />Assim como nós dois dissemos que não estamos trabalhando para poder beber!<br /><br /><br />ULISSES SENIL<br />28/07/2007<br /></span></p><span style="font-size:85%;"><br /></span>Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5927805368578216836.post-77761164925758355172007-07-22T07:43:00.000-07:002007-07-27T12:09:04.012-07:00<span style="font-size:180%;">DEPOIMENTO DE ADNA NEIR<br /><br />Mesmo que aqui não seja nenhuma cidade fantasmagórica<br />como São Petersburgo com gélidos presságios e vertigens descomunais,<br />há horas que olho pro chão do alto de qualquer prédio suficientemente prédio<br />e sinto vontade de me jogar. Não pela morte, Deus me livre!<br />mas pela sensação do voou e a leveza do corpo antes que ele deixe sê-lo...<br />A dúvida cruel é saber se a tal sensação vale a vida nos dois sentidos da idéia:<br />se a morte pagaria a queda, ou se a queda pagaria a morte diante desse desequilibro frente ao precipício, nessa risca de vertigem<br />Entre o ar e último andar...<br /><br /><br /><br />ULISSES SENIL<br />19/07/07</span>Ulisses Senilhttp://www.blogger.com/profile/11608571890086409003noreply@blogger.com0